28 de julho de 2010

Me cuspa na cara

Me cuspa na cara,
Arranque meu sangue.
Suas rubras unhas
Não me machucam
Como seus olhos
- Gelo seco!

O escárnio queima suas pupilas
E o ódio enrola língua.
Não levanto mão.
Brandindo uma faca
Ofereço meu pescoço
-Venha a guilhotina!

A lâmina francesa não está suja.
Cai aquela máscara enfim,
velha fantasia
- Armadura amarga!

Como uma fera cansada,
Você olha a presa em fuga.
Suas garras se retraem
Seu olhar desfaz as chamas,
Escorre em lágrimas
Nas minhas mãos
- Domo a onça amada!

15 de março de 2010

Solidão

Ausência aliada
À duvida pendente
Fazem cortes fundos
Por toda minha mente.

Essa dor sozinha
Com perfumes de prazer
Pode competir.

Ao provar da sua fonte
Encontro saudoso
Gosto de sonhar,
Sem saber mesmo assim
Até onde podemos ir.

O sabor luminoso
Desvaira e fere.
A semente é minha dor
E de toda essa angústia
Nasce mais e mais alegria,
Quando vejo você dormir.


Não há sombras sem luz,
Nem amor sem solidão.

11 de março de 2010

Cigana

Põe as cartas na mesa;

Na cama, os amantes,

Rainha de paus e o demônio.


Fez um jogo fatal:

As cartas, como as roupas,

Esquecidas, desnecessárias.


Seu corpo é como uma cigana

Ao abrir as cartas de Marselha.

Estrangeiro

Abra-se e me abrace,
Sou estrangeiro no mundo.
Minha casa é seu ventre;
Minha terra, seus braços.

Perca-se ao me beijar.
Ache em meus lábios
O último dia de verão.
Um refúgio derradeiro
Para quem viajou demais.

Vamos dar um ao outro
Nossas eternas solidões
E nossos breves corpos.

Seu ventre é meu país;
Seus seios, meu verão.
Em você, descanso afinal.

8 de março de 2010

Felicidade

Vi a felicidade
Nuns olhos azuis,
Mas tão logo surgia
Já estava perdida.

Nem sei mesmo
Se era ela
E de tanto buscá-la
Não lembro seu nome.

Onde provei
Seu gosto fugaz
Ficou uma cicatriz
Mas o gosto sumiu.

Talvez só na infância
Ou quando trepava
Em árvores e me perdia
No bosque a tinha.

Já nem sei onde moras
Ou mesmo se existe,
Mas a dor é real
E por isso te busco.

9 de fevereiro de 2010

Tardes outonais

Desfilam dúvidas
Nas ruas. O sol
Não esquenta braços vazios.

Longas tardes,
Por onde sombras
Abrem caminho
E até certezas
Fazem cair.

Para desejosas sombras
Virem da fantasia
E fazerem real
A prisão de um homem.

Qual prazer pode curar
O vazio das tardes outonais?

As belas sombras
Só ofertam dúvidas
E contando outonos
Não encontro resposta.

Só me restaram
Sombras e fantasias,
Grades em tardes vazias.

4 de fevereiro de 2010

By Morrison's grave



You were the Spy in House of Love,
The King Snake that made me wake.
But you lie and crawl no more.
I search your soul far in some shore.
Your poetry glow and we still Howl.

Forever embraced by your sweet heroin.
Finally resting, forever the end.
All the Indians in your tomb scream high:
You were the shaman and we are your tribe.

Jim Morrison sings no more.
Mojo Rising
Can't be our guide!
We are lost in the night
And no day comes to destroy it.

Still taking poison and good times.
But Rock 'n' Roll is dead. Yeah!

We fuck and drink and buzz.
We love and hate and feel.
We search for light and all's night.
I woke this morning and I got myself
Here – to your grave.
I have this longing. I crave
To crawl a little while longer.

I try to wake your soul.
But you are dead my friend.
So rest and sleep well.
You had enough you had it all.
So have with me one last beer.
Here is to you, Jim Morrison!