15 de março de 2010

Solidão

Ausência aliada
À duvida pendente
Fazem cortes fundos
Por toda minha mente.

Essa dor sozinha
Com perfumes de prazer
Pode competir.

Ao provar da sua fonte
Encontro saudoso
Gosto de sonhar,
Sem saber mesmo assim
Até onde podemos ir.

O sabor luminoso
Desvaira e fere.
A semente é minha dor
E de toda essa angústia
Nasce mais e mais alegria,
Quando vejo você dormir.


Não há sombras sem luz,
Nem amor sem solidão.

11 de março de 2010

Cigana

Põe as cartas na mesa;

Na cama, os amantes,

Rainha de paus e o demônio.


Fez um jogo fatal:

As cartas, como as roupas,

Esquecidas, desnecessárias.


Seu corpo é como uma cigana

Ao abrir as cartas de Marselha.

Estrangeiro

Abra-se e me abrace,
Sou estrangeiro no mundo.
Minha casa é seu ventre;
Minha terra, seus braços.

Perca-se ao me beijar.
Ache em meus lábios
O último dia de verão.
Um refúgio derradeiro
Para quem viajou demais.

Vamos dar um ao outro
Nossas eternas solidões
E nossos breves corpos.

Seu ventre é meu país;
Seus seios, meu verão.
Em você, descanso afinal.

8 de março de 2010

Felicidade

Vi a felicidade
Nuns olhos azuis,
Mas tão logo surgia
Já estava perdida.

Nem sei mesmo
Se era ela
E de tanto buscá-la
Não lembro seu nome.

Onde provei
Seu gosto fugaz
Ficou uma cicatriz
Mas o gosto sumiu.

Talvez só na infância
Ou quando trepava
Em árvores e me perdia
No bosque a tinha.

Já nem sei onde moras
Ou mesmo se existe,
Mas a dor é real
E por isso te busco.